Conhecendo o Algarve: a Costa Vicentina
Se falamos do Algarve pensamos imediatamente em toda a costa sul, e mais ainda, na faixa que fica entre Faro e Lagos. Mas o Algarve também tem uma pequena costa que é o prolongamento da costa alentejana, entre a Praia de Odeceixe e o Cabo de São Vicente. A Costa Vicentina foi classificada como parque natural em 1995.
As praias do oeste
Ao descermos a Estrada Nacional 120, assim que passamos a Ribeira de Seixe entramos no Algarve e é logo ali que nos aparece Odeceixe – a primeira povoação algarvia. A costa é esplêndida nesta zona e as praias são selvagens, muitas delas, desertas. Há falésias e dunas de areia. Estamos numa parte do Algarve ainda preservada do turismo de massas, aliás não há grandes hotéis ou resorts e por isso mesmo ainda se vive uma tranquilidade inimaginável em outros pontos. O pôr do sol é incrível e se puder não perca o espectáculo que é ver o sol aqui. A praia de Odeceixe fica a pouco mais que 3Km da vila e é uma praia ‘enclausurada’ numa bela falésia, ficando abrigada do vento. A vista do alto das colinas é incrível e só apetece sentar um pouco lá no alto e ficar a apreciar toda aquela beleza, as ondas na enseada e a água doce da ribeira que se encontram com a água salgada do mar. Continuamos pela costa em direção ao sul até chegarmos a Aljezur, a vila que é dominada pelo seu castelo em ruínas datado do século X e que simboliza as lutas entre cristãos e mouros. Apanhamos agora a estrada nacional 268 porque queremos continuar mais perto da costa. Por aqui há belas praias – Monte Clérigo, Arrifana, Bordeira, Amado – entre tantas outras, nem sempre de fácil acesso, mas acho que é ai que está o segredo para a preservação desta zona – a falta de boas estradas de acesso às praias. Mas mesmo assim a costa escarpada revela de vez em quando pequenas enseadas que escondem surpresas apenas acessíveis por terra batida e caminhos meio perdidos que vale a pena explorar.
Sagres e Cabo de São Vicente
Continuamos estrada afora e demoramos-nos pouco em Vila do Bispo porque queremos chegar a Sagres. O mar fica perto de tudo, da costa que descemos e da outra costa que começamos a avistar, aquela que se prolonga até Vila Real de Santo António. Sagres é uma vila dispersa e longe de tudo, mas carregada de história e de memórias. Foi aqui que Henrique o navegador se instalou entre 1394 e 1460 com a sua equipa de astrónomos, navegadores e cartógrafos para produzir mapas marítimos, o aperfeiçoamento do astrolábio e a invenção de um barco mais leve e para tirar maior proveito dos ventos – a caravela. Sagres é uma costa cheia de rochas, pequenas enseadas e caminhos que fazem a delícia dos caminhantes e ciclistas que por aqui abundam em busca de tranquilidade. Da Fortaleza de Sagres as vistas são impressionantes, mas quero antes continuar pela 268 em direção ao Cabo de São Vicente onde as vistas são igualmente imperdíveis. É tudo meio selvagem nesta zona, o vento sopra forte e as ondas do mar são maiores e mais ruidosas batendo contra as pedras da costa. Aliás, na Idade Média pensava-se que esta zona era o fim do mundo, local sagrado para os romanos que lhe chamaram de Promontorium Sacrum (promontório sagrado), local de celebrações religiosas e até a proibição de seres humanos durante a noite por ser, supostamente, uma zona frequentada por deuses. O que é certo é que o Cabo de São Vicente é uma referência na navegação e ainda hoje lá continua o seu farol, cujo alcance de 95km faz dele um dos maiores em toda a Europa. O nome de São Vicente deve-se depois do corpo de São Vicente ter sido transladado após a invasão árabe, tornando este um local de peregrinação durante séculos. Tratando-se de um local de passagem em direção ao Mediterrâneo, o Cabo se São Vicente foi palco de algumas batalhas navais, nomeadamente a derrota da Armada Espanhola em 1797 pelos almirantes britânicos Jervis e Nelson. Tire uma hora para se perder por aqui. Para cá chegar terá de vir de carro, mas há um estacionamento grande antes do farol e lá dentro um café e uma zona ideal para tirar imensas fotos. Vale a pena a viagem até ao Cabo de São Vicente e se conseguir apanhar o pôr-do-sol ainda melhor.
A Natureza
Desde Odeceixe até chegarmos ao Cabo de São Vicente temos uma zona mais selvagem, com menos estradas e com muito menos hotéis. Esta área protegida é uma reserva natural onde as aves têm locais de nidificação e destacam-se a as águias-de-Bonelli, peneireiros, cegonhas-brancas ou garças reais. O mar que recorta esta costa traz o peixe fresco e saboroso, mas também o marisco.
As ondas regulares e fortes são o paraíso para surfistas que apreciam os areais e enseadas que aquela liberdade do oceano lhes proporciona. Há uma diversidade de plantas com dezenas de flores silvestres que nos oferecem um espetáculo na primavera, mas junto à costa o vento forte e o solo rochoso tornam a paisagem menos luxuriante, mas mesmo assim com uma vegetação local típica com cistos, cilas, cravos-da-beira-mar, zimbros e alfazema.